27 de janeiro é o Dia Internacional em Memória da Vitimas do Holocausto. Neste dia, também foram lembradas as Testemunhas de Jeová.
Muitos desconhecem que milhares de Testemunhas de Jeová foram executadas ou definharam em campos de concentração Nazis por serem consideradas inimigos do estado. Na realidade, elas eram, e são, politicamente neutras. Os Nazis queriam que elas se comprometessem a renunciar à sua fé, a informar a polícia sobre outras Testemunhas de Jeová, a submeter-se totalmente ao governo e a defender a “Pátria” com uma arma na mão.
As Testemunhas de Jeová foram um dos poucos grupos que falaram coerentemente contra as atrocidades praticadas pelo regime de Hitler.
O Professor Robert Gerwarth disse que ‘embora o terror Nazi tenha visado milhões por razões de biologia, nacionalidade ou ideologia política, as Testemunhas de Jeová foram o único grupo no Terceiro Reich a ser perseguido unicamente com base nas suas crenças religiosas.
Segundo o historiador Detlef Garbe, ´a intenção declarada dos governantes Nazis era eliminar completamente as Testemunhas de Jeová da história da Alemanha’.

Testemunhas de Jeová presas por causa da sua fé

Hoje em dia, todos temos o direito de ter uma diferente opinião, fé e religião, isso é um direito humano básico. Mesmo assim, em vários países, as Testemunhas de Jeová têm sido privadas disso. Elas são presas por simplesmente praticarem a sua fé, ou por serem objetoras de consciência. Esta é uma lista de todas as Testemunhas de Jeová que estão presas atualmente (dados de março de 2023):

Crimeia: 9 presos por causa de atividades religiosas.

Eritreia: 27 presos por causa de atividades religiosas e outras razões desconhecidas.

Rússia: 103 presos por causa de atividades religiosas.

Singapura: 11 presos por serem objetores de consciência.

Tajiquistão: 1 preso por causa de atividades religiosas.

Outras terras: Mais de 26 presos por causa de atividades religiosas.

Total: Mais de 177

Apesar de estarmos no século XXI, e de haver muita informação sobre as liberdades básicas do ser humano, continuam a haver governos opressores que não respeitam os direitos humanos e que prendem pessoas inocentes apenas porque não querem abdicar da sua neutralidade politica e desejam praticar a sua fé de forma pacífica.

Infelizmente, ao longo da história situações como esta já se repetiram. Tive a oportunidade de visitar alguns locais em que esta opressão foi bem evidente.

Auschwitz

Não se consegue esquecer uma visita a um campo de concentração. Eu fiz esta visita no inverno, o que tornou esta experiência ainda mais marcante. Toda a envolvência, o frio, a neve, o silêncio, os barracões primitivos que não tinham janelas nem isolamento do frio ou do calor, a explicação que íamos ouvindo da guia, enfim, tudo isso fez com que eu conseguisse imaginar o sofrimento que milhares de pessoas sentiram quando estavam prisioneiras naquele lugar.

O complexo dos campos de concentração de Auschwitz, na Polónia, foi o maior dentre os estabelecidos pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Estes campos eram responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas, incluindo judeus, polacos, Testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais e outros grupos minoritários

Destes, sabemos que o grupo composto pelos judeus foi o maior, mas dois desses grupos chamaram-me mais à atenção. 

O primeiro foi o grupo das Testemunhas de Jeová. Sendo eu uma e por já ter lido sobre experiências traumáticas de alguns deles, esse tocou-me profundamente e de uma forma mais forte, porque imaginei que se tivesse vivido naquela época, eu poderia ter sido uma dessas pessoas. A particularidade das Testemunhas de Jeová presas nesses campos, é que elas eram presas simplesmente porque não aceitavam corromper a sua consciência. Não abdicavam da sua adoração. Não abdicavam da sua neutralidade. Para serem libertadas, bastava assinarem um documento onde renunciavam à sua fé. Tão simples quanto isso.

As Testemunhas de Jeová também se recusavam a trabalhar nas fábricas de produção de armas e munições, ou seja, recusavam-se a trabalhar para a promoção da guerra e isso levava-as a punições.

O outro grupo foram os polacos, que, segundo explicou a guia, eram presos porque os nazistas queriam tomar posse das suas casas. Elas eram tomadas não só para uso dos militares mas também para usar os seus tijolos para construção dos edifícios dos campos.

Todos os prisioneiros eram submetidos a condições horríveis, trabalho forçado, tortura e alguns eram submetidos a experiências médicas pelo Dr. Josef Mengele, médico da SS. Muitos morreram de fome, doenças ou devido à violência. Os barracões não tinham casa de banho, só um balde para ser usado por todos. Cada barracão era composto por 36 beliches de madeira onde cinco ou seis prisioneiros eram espremidos em cada estrado. O número de prisioneiros alojados em cada barracão chegava a 500.

Muitos devido às doenças que provocavam muita diarreia, não se conseguiam levantar para ir ao balde e faziam as suas necessidades nesses estrados e tudo caía para as “camas” de baixo. Por isso, tornavam-se facilmente vítimas de doenças contagiosas que se espalhavam pelo campo.

A alimentação era muito deficiente. Era composta por uma sopa aguada feita com carne e vegetais podres, alguns pedaços de pão, um pouco de margarina, chá ou uma bebida amarga que parecia café.

À entrada do campo havia uma placa que dizia: “ARBEIT MACHT FREI”, que significa “o trabalho liberta”. Na realidade, o que acontecia lá dentro era exatamente o oposto.

Conforme se vê nas seguintes fotos, todos os bens que os prisioneiros levavam para os campos, eram-lhes retirados. Até mesmo os seus cabelos eram rapados. Duas das fotos abaixo mostram algumas das Testemunhas de Jeová presas neste campo, que podem ser reconhecidas pelo triângulo roxo nas suas roupas.

Fábrica de Schindler

Depois de visitar o campo de concentração de Auschwitz, fui ao Museu da Fábrica de Schindler. Ele está localizado na Cracóvia, Polônia. A fábrica foi administrada por Oskar Schindler durante a Segunda Guerra Mundial. Ele empregou mais de 1.000 trabalhadores judeus, salvando-os da morte nos campos de concentração nazistas. Os trabalhadores fabricavam panelas e outros utensílios de cozinha para o exército alemão. A história da fábrica e a ajuda de Schindler para salvar tantas vidas inspiraram o livro é o filme “A lista de Schindler”. A fábrica agora é um museu dedicado à história das pessoas que foram salvas por Schindler e conta a história verdadeira dos seus esforços para ajudá-los a sobreviver.

Mauthausen

Mauthausen é um campo de concentração nazista localizado na Áustria durante a Segunda Guerra Mundial. Foi um dos campos de concentração mais brutais, e estima-se que mais de 120.000 pessoas tenham sido detidas lá, com cerca de 90.000 mortes registadas. O campo era conhecido pelo trabalho forçado nas pedreiras próximas, onde muitos dos prisioneiros eram obrigados a trabalhar até à morte em condições desumanas. A história de Mauthausen é um triste lembrete dos horrores da guerra e dos crimes cometidos contra a humanidade.

Em Mauthausen também vi um memorial feito para as Testemunhas de Jeová, que na sua roupa utilizavam um triângulo roxo.

Zoo de Varsóvia

O Zoo de Varsóvia foi fundado em 1928 na cidade de Varsóvia, capital da Polónia.
Este jardim teve muita importância durante a 2ª Guerra Mundial. O casal que estava encarregue de cuidar do jardim, Jan e Antonina Zabinski, usaram a sua influência para ajudar os judeus durante a ocupação alemã. Eles conseguiam passar comida e resgatar judeus dos guetos e escondiam-nos no zoológico. Ficavam em jaulas vazias que estavam na casa deles, e túneis subterrâneos.
Na visita que fiz ao zoo, vi uma claraboia junto à casa principal, que nos permitia ver parte desses túneis.
Esta história foi contada no livro “O Zoológico de Varsóvia” de Diane Ackerman e no filme, como o mesmo nome, lançado em 2017. O livro não li, mas vi o filme antes de fazer esta visita o que me ajudou a tentar visualizar na minha mente tudo o que se tinha passado neste local.
Após a Segunda Guerra Mundial, o zoo foi restaurado e reaberto ao público em 1949, tornando-se novamente um destino popular em Varsóvia.

Campo Concentração Teresin

O Campo de Concentração de Terezin foi outra visita impactante para mim.
Este foi um campo de concentração e não de extermínio, apesar de muitos terem morrido nele e muitos outros terem sido enviados a campos de extermínio.
O cenário deste campo é parecido com outros que visitei. Vi os barracões frios, os pátios, as celas e outros espaços.

O crematório ficava mais afastado e foi arrepiante entrar nesse espaço.
O guia explicou que neste campo, à semelhança de todos os outros, eram levados não só os judeus, mas também ciganos, homossexuais, presos políticos e Testemunhas de Jeová. Novamente, o guia enfatizou que, para as Testemunhas de Jeová saírem imediatamente de lá, bastava assinarem um documento onde renunciavam à sua fé. Elas eram presas apenas com base nas suas crenças religiosas.

O Buraco

Antes de 1974, a obra das Testemunhas de Jeová era proscrita, aqui em Portugal. Elas não podiam nem sequer se reunir, e se eram apanhadas com alguma publicação, eram-lhes confiscadas. Por isso, tiveram de arranjar maneiras de conseguir ter acesso a tais publicações. 

No armazém de uma loja em Lisboa, foi construído um esconderijo, para a duplicação de publicações. Esse lugar era chamado de “buraco”, e podiam ter acesso a ele por um grande frigorífico avariado.

Lá, duplicavam-se e embalavam-se revistas e folhetos, que depois chegariam às mãos das Testemunhas de Jeová clandestinamente. 

Exposição no museu da Filial das Testemunhas de Jeová da Alemanha

Esta exposição é sobre a perseguição às Testemunhas de Jeová na Alemanha. Abrange a perseguição pelos Nazis entre os anos 1941 a 1945 e pelo regime comunista, de 1949 a 1989. Isso aconteceu porque elas eram neutras em assuntos políticos, e não se envolviam em guerras. Por isso, recusavam-se a participar no serviço militar, a votar e a adorar símbolos nacionais. Debaixo desses regimes essas coisas eram obrigatórias. Elas também eram perseguidas por pregar de casa em casa. Muitos eram enviados para campos de concentração, prisões, e até mortos.  

No entanto, elas não deixavam de se reunir, nem deixavam de imprimir, traduzir e distribuir revistas e outras publicações. Nesta exposição consegui observar maquinas que eram utilizadas para esse efeito e publicações da época.

Também, graças às várias placas informativas espalhadas pela exposição, consegui aprender mais sobre estes regimes intolerantes e também sobre a história de como as Testemunhas de Jeová conseguiram ultrapassar com alegria esta época difícil.

Livros

Durante este projeto, comprei e consultei os seguintes livros e brochuras:

  • Imprisoned For Their Faith – Jehovah’s Witnesses in KL Auschwitz ~ Teresa Wontor-Cichy
  • Jehovas Zeugen im ZK Mauthausen ~ Heide Gsell, Timon Jakli
  • Memoria De Un Testimono ~ Circulo europeo de antigos deportados e internados Testigos de Jehová
  • I Bibelforscher e il nazismo – I dimenticati dalla Storia ~ Sylvie Graffard, Léo Tristan
  • Triangoli Viola ~ Guia da exibição 

Entrevista a Simone Arnold Liebster

Na sequência desta pesquisa, fiz um projeto em que organizei uma entrevista à Simone Arnold Liebster, sobrevivente do Holocausto. Os detalhes estão aqui.

Categorias: Governo

1 comentário

שירותי ליווי · Novembro 21, 2023 às 9:18 pm

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